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  • Foto do escritorNani Nunes

BBB também é papo de preto!

E ai, pessoal que lê minha coluna. Bora falar um pouquinho do assunto do momento? O Big Brother Brasil, carinhosamente chamado de BBB22, nem começou e já se tornou pauta em diferentes redes sociais. Você pode até não gostar do reality show, e/ou achar uma perda de tempo, mas é inegável que ele levanta questionamentos importantes e a possibilidade de debater assuntos fora da nossa bolha. Nos últimos anos com o aumento de usuários em sites como Twitter e Instagram, por exemplo, o debate em torno dos acontecimentos da casa mais vigiada do brasil ganham forças, mas precisamos tomar cuidado para que não seja um debate raso e sem aprofundamento e que não gere reflexão. Então, vamos empretecer esse assunto?


Na última segunda-feira (17), dia da estreia da temporada 2022, durante a madrugada, uma fala de uma das participantes, Natalia Deodato, gerou muita repercussão aqui fora. Sem dúvidas um verdadeiro desserviço para a comunidade negra e para a sociedade brasileira como um todo. A problemática na fala da modelo e designer de unhas se dá à romantização da escravidão. Ela diz o seguinte:



Foto: Reprodução/Globo

"Sou preta. Realmente tem a história que a gente veio e viemos como escravos, sim. Por quê? Porque a gente era eficiente. Por quê? Porque a gente era forte. Por que é que a gente veio como escravo? Porque a gente era bom no que a gente fazia. Por isso, porque talvez se colocasse uma pessoa lá pra fazer aquilo, talvez não conseguiria."

Em um momento em que vivemos uma onda negacionista suavizar um dos acontecimentos mais cruéis da humanidade é dar munição para legitimação do pensamento de que a escravidão “não foi tudo isso” e também é um retrocesso no diálogo e na luta antirracista. As tecnologias e conhecimentos dos povos africanos foram roubados, assim como suas vidas e a herança negativa por essa parte da história dá frutos até nos dias atuais. Lumena, participante do BBB21 que foi cancelada em sua edição por “militar demais”, segundo internautas, seria de grande ajuda para resinificar a informação para a jovem sister de 22 anos.


Entretanto, um ponto importante de todo esse debate e que precisa ser levado em consideração é que não é total responsabilidade da Natália que visivelmente não teve acesso à educação e à informação. Porque todas as pessoas nesse país foram submetidas a um processo de deseducação, um processo de alienação da história da escravização dos povos africanos no Brasil, como afirmou Roger Cipó em suas redes.


Precisamos falar também que a consciência racial não é intuitiva, ela é adquirida. A gente descobre que é negro, com o tempo passamos a entender com nossas vivências que enfrentamos algumas dificuldades que uma pessoa branca não enfrentaria. Somos socialmente separados por raça e essa separação foi feita pelos colonizadores ao nomear as pessoas escravizadas de negros após o sequestro criando uma ideologia de superioridade entre etnias. É importante frisar que essa separação é feita na esfera social e não biológica, somos da mesma espécie, mas não somos vistos socialmente da mesma forma.


A Estrutura social foi construída sobre pilares racistas, mas para entender de forma aprofundada as ferramentas usadas para manutenção do racismo precisamos aprender sobre a história dos povos africanos para além da escravidão, precisamos aprender os fatos que foram apagados dos livros e dos ensinamentos das escolas e precisamos ter conhecimento do genocídio de povos pretos e dos povos originários. Só assim, podemos compreender os mecanismos dessa estrutura que permanece favorecendo a branquitude. E aí percebemos como nossos corpos são tratados e marginalizados em muitos casos.


Não nascemos politizados, nos tornamos. Alguns levam mais tempo que outros e alguns simplesmente não querem se politizar. Ser preto não é a única condição para falar com propriedade sobre as questões raciais. A vivência é um fator importante, mas não caminha sozinha.


Não use falas de pessoas negras que estão em descoberta e aprendizado e/ou não querem se aprofundar nas questões raciais para legitimar o seu racismo. Lembra que não partimos do mesmo lugar e pessoas pretas também são plurais, diversas e com posicionamentos divergentes. É exatamente por isso que precisamos educar principalmente os nossos.


Como diria o rapper Coruja: "Não deixe a guerra entrar em nosso terreiro. Se é nois contra

nois é nois que morre primeiro!"

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