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  • Foto do escritorLarissa Tassin

Precisamos falar sobre transfobia!

Atualizado: 26 de jan. de 2022

Hoje já é terça-feira e o editorial desta semana levou um pouco mais de tempo para ser produzido devido à calma que esse tema necessita para ser colocado em pauta. Como o título já diz, nós precisamos falar sobre a transfobia! Então, preparei um editorial mais completo para que você, leitora cis desta revista, saia da sua zona de conforto e rompa a sua bolha.


Como Nani Nunes bem disse em seu texto na semana passada, o BBB mal começou e já se tornou pauta quentíssima em todos os veículos de comunicação e redes sociais desse brasilzão!


Teve comentário amenizando a escravidão de negros no Brasil, teve o brother Rodrigo dizendo que nunca aprendeu nada sobre pautas identitárias e resolveu fazer isso bem no BBB, enquanto todo mundo quer estar focado em fazer seu próprio jogo. E teve as micros agressões sofridas pela cantora e atriz Lina Pereira, a Linn da Quebrada, por ser uma travesti.


Foto de Lina Pereira sentada no sofá do BBB22, com a mão na sobrancelha onde ela tem uma tatuagem escrito ELA.
Foto: Reprodução/Globo

O programa começou na segunda-feira (17), mas Lina entrou na casa somente na quinta (20), pois havia testado positivo para Covid durante o confinamento pré-BBB, em um hotel. E em apenas três dias no jogo sofreu com a transfobia de alguns dos brothers da casa.


Lina é uma travesti - uma identidade de gênero que difere da que foi designada à pessoa no nascimento - e tem o pronome ELA tatuado, literalmente, na sua testa para que as pessoas saibam logo de cara - ainda que ignorem sua performatividade de gênero feminina - que prefere ser tratada no feminino.


Mas, tanto sua aparência de mulher, sua retificação de nome e sua tatuagem parecem não ter superado o preconceito das sisters Eslovênia, Laís e Naiara e do brother Rodrigo. Eslô - como prefere ser chamada e assim o é - simplesmente tratou Lina no masculino algumas vezes em situações diferentes na casa. Laís foi a autora de um torpedo anônimo que perguntava à Lina se ela estava "solteiro" e Naiara, em uma conversa com a cantora, insinuou que outras travestis não alcançam o mesmo destaque que Linn por falta de vontade.


Fonte: YouTube/ Canal Dona Brasil


Além do outro episódio lamentável protagonizado por Rodrigo que, em uma conversa com outros participantes no quarto Lollipop, usou a palavra "traveco" - um termo pejorativo para se referir a uma travesti. Corrigido por Viny (outro participante do reality)), ele disse que não sabia e foi perguntar para Lina SE e POR QUE o termo era mesmo pejorativo.


E com todos esses infelizes acontecimentos, pipocou na mídia e nas redes sociais críticas aos brothers e muitos textos sobre identidade de gênero, transfobia e travestis. Então, aproveitando o momento, decidi que seria uma excelente reflexão para fazermos nesta revista que busca englobar todas as mulheres.


Afinal, o que é transfobia?


De uma forma bastante resumida, a transfobia é qualquer ação ou comportamento baseado no medo, intolerância, rejeição, aversão, ódio ou discriminação às pessoas trans por causa das suas identidades de gênero. E se você quer saber mais sobre identidade de gênero e transfobia, leia a incrível explicação que o Politize! fez sobre o tema. Depois, volte aqui!


Se você é uma mulher cis assim como eu, o primeiro passo para ajudar a combater a transfobia - e qualquer outro preconceito - é reconhecer seu lugar de privilégio e também reconhecer que é transfóbica/preconceituosa.


Esse reconhecimento é importante não para culpar alguém, mas para que você consiga se perceber nessa posição e passar a olhar com mais cuidado para falas e atitudes suas que podem agredir de alguma forma outras pessoas. Como sempre menciono em meus textos: temos de pensar sobre como pensamos.


Afinal, de onde vem esse pensamento de que uma travesti deve ser tratada no masculino? Por que há repulsa por pessoas assim? Por que se acredita que toda pessoa trans é promíscua? E por aí vai...


Algumas dessas perguntas podem ser difíceis de responder de primeira, mas, só de você exercitar o questionamento das suas crenças faz com que desenvolva o pensamento crítico, a empatia e o respeito ao que é diferente do senso comum.


Frases transfóbicas que você não deve mais falar

1 - "Traveco"


O sufixo "eco" dá o sentido de inferioridade à uma palavra e um tom de chacota como em cacareco, livreco, padreco etc. Chamar uma travesti de "traveco" é desumano. Então, não se refira às travestis usando esta palavra.


2 - "Maior trap"


Trap é uma gíria americana que significa "armadilha" e quando usada para se referir a pessoas trans e travestis quer dizer que elas são armadilhas, como se enganassem as pessoas por algum motivo. Os termos corretos são mulher/homem trans, a travesti, a/o drag queen e, claro, chamar a pessoa pelo nome.


3 - "Você parece mulher/homem de verdade!"


É muito comum (e bastante cruel) que se fale para homens ou mulheres trans e travestis essa expressão. Às vezes, a pessoa jura que está elogiando, mas o sentido dessa frase é extremamente problemático. Pessoas trans são de verdade, legítimas e não simulacros.


4 - "Qual seu nome de verdade?"


O nome de batismo de uma pessoa trans é chamado de "nome morto". E isso tem um motivo: ele deixa de existir. Revivê-lo é uma violência simbólica e reforça lembranças dolorosas e inconvenientes.


E aí, já falou ou pensou alguma delas? Agora você entende porque são erradas. Tem muito mais de onde essas frases vieram. Por isso, aqui está uma lista completa com 20 frases transfóbicas para retirar de vez do seu vocabulário. Mas, você pode ler depois que terminar este texto.


Bom, mas você deve estar pensado:


"Somos todos humanos, independentemente de cor, crença ou qualquer coisa".

Isso é verdade, mas, olhar com atenção para pautas identitárias nos faz compreender que "sermos todos humanos" não livra pessoas pretas do racismo, pessoas LGBTQIA+ de violências absurdas, pessoas com deficiência do capacitismo e assim por diante.


Por 13 anos consecutivos o Brasil está no topo da lista sendo o país que mais mata pessoas trans no mundo. Os órgãos de Segurança Pública no Brasil continuam a ignorar essas questões de gênero. 11 estados brasileiros sequer possuem dados sobre violências a pessoas LGBTQIA+.


E não ter dados é um dado. Mostra uma dura realidade: pessoas LGBTQIA+ sequer têm suas violências numeradas. Os dados de mortes de pessoas trans no Brasil são obtidos por movimentos trans e organizações da sociedade civil. E esse discurso de "somos todos humanos" parte, justamente, dessa invisibilidade social.


O complexo do cis salvador


Esse título acabei de adaptar da expressão "o complexo do branco salvador", usada pelo movimento negro quando pessoas brancas acreditam que podem "resgatar" negros de uma situação de vulnerabilidade.


É muito usado no cinema, quando narrativas de filmes e séries mostram realidades negras apenas em uma visão de vulnerabilidade e, no final da história, vem um herói branco que muda a situação. Denuncia o racismo, cria uma lei e por aí vai.


Esse complexo contribui para reforçar estereótipos como os de que a África é um continente homogeneamente miserável, que seus habitantes são incapazes e precisam sempre de ajuda. Ou que pessoas negras de qualquer lugar do mundo vivem também - e necessariamente -nessas condições.


Então, pensando por essa lógica, será que pessoas trans precisam ser salvas? Precisam que Tadeus Schmidts chamem a atenção de seus pares ao vivo, mesmo quando a própria pessoa agredida já havia sinalizado o incômodo com a situação?


Se você não entendeu a referência do parágrafo anterior porque não assiste ao BBB ou perdeu esse dia, te explico: após todos os casos de agressão verbal e simbólica que a Lina Pereira sofreu no reality, mesmo ela tendo sinalizado essas agressões e mostrado claro desconforto, as pessoas que a agrediram simplesmente ignoraram e continuaram errando da mesma forma.


No domingo a noite, antes de começar as indicações ao paredão, o apresentador do programa, Tadeu Schmidt, fez um discurso de abertura chamando a atenção dos brothers que trataram a Linn no masculino.

À esquerda, há uma foto do apresentador Tadeu Schmidt. À direita, a mesma foto de Lina Pereira com a mão na sobrancellha.
Fonte: Reprodução/Globo
"Nossa, mas quando não faz nada reclamam! Se faz, acham ruim?!".

É, eu sei que você está pensando isso ou algo parecido. Eu já fui exatamente assim. Mas, aprendi e aprendo todos os dias a tratar as pessoas com o respeito que elas precisam. Então, assim como eu aprendi, você também consegue. Vamos lá:

  1. Lina corrigiu todos os participantes e explicou pacientemente porque estavam errados, como isso a feria; desculpas foram pedidas, mas os erros persistiram.

  2. Por que uma travesti apontar o erro do outro com relação a ela é ignorado, mas, quando um homem cisgênero fala, aí, sim, a questão é rapidamente corrigida?

Consegue entender? E aqui fora da casa mais vigiada do Brasil isso se replica.

"Será que a autora deste editorial é a cis salvadora?"

Longe de mim! Todas já sabem que uma das missões desta revista é dar voz a TODAS as mulheres e buscamos fazer isso verdadeiramente dia a dia. Além disso, este editorial é um espaço de provocações saudáveis partindo de uma mulher cis, branca e que já agrediu muitas pessoas verbalmente e simbolicamente cometendo todos esses erros citados acima.


Trabalhar com mulheres só me fez perceber o quanto aprender sobre diversidade é importante. E, junto a isso, dar espaço a pessoas plurais é o mínimo! Então, vamos juntas desconstruir o status quo?!

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